Summary: | A proposta humeana acerca do método e da investigação na ciência do homem tornou-o um precursor do conhecido modelo covering-law de explicação científica, tal como defendido por Hempel, Nagel e outros filósofos contemporâneos da ciência. A interpretação da teoria da ciência de Hume como precursora desse modelo costuma ser majoritária entre os comentadores de sua filosofia. Apenas Donald Livingston travou uma discussão singular contra essa quase unanimidade, propondo-se a defender a existência de dois modelos de explicação na epistemologia de Hume, um adequado às ciências naturais, outro às morais. O autor apóia-se em certas passagens em que Hume parece reconhecer que, em ciências morais, predominariam as explicações recorrendo a causas morais, as quais consistiriam nas razões do agente ou conjunto de agentes envolvidos no evento a ser explicado. Defendemos que a diversidade das explicações causais naturais e morais em Hume pode ser discutida, não a partir de uma distinção radical de natureza, como aquela que Livingston quer estabelecer, mas a partir de uma distinção de grau: os graus de certeza que distinguem entre provas e probabilidades, entre explicações pela via dedutiva a partir de leis ou por generalizações estatísticas. Isto é, mais de acordo com a assimetria que Nagel reconhece entre ciências do particular e generalizadoras, quanto ao objetivo de estabelecer leis, no segundo caso, ou de apenas aplicá-las, no primeiro. Uma distinção compatível com aquela que Hume já adotara, atribuindo graus diferentes de generalidade de modo análogo a ciências naturais ou morais.<br>Hume's proposal of a science of man is often taken as a precursor of the now well-known covering-law model of scientific explanation, sustained by Hempel, Nagel and other contemporary philosophers of science. Among Hume's commentators D. Livingston is an exception, defending the existence of two models of explanation in Hume's epistemology, one suited to the natural sciences and another to the moral ones. Livingston supports his claims in certain passages where Hume allegedly refers to moral causes to explain the motives and reasons of agents involved in phenomena to be explained. Against such interpretation, we here defend that the humean distinction between natural and moral causes is rather of degree than of nature, similar to the one he establishes between proofs and probabilities. Such reading brings Hume's position closer to Nagel's as to classifying sciences according to their different degrees of generality.
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