Summary: | Montaigne faz um ataque pirrônico ao conceito acadêmico de verossimilhança ou probabilidade na Apologia de Raymond Sebond. O ataque é paradoxal porque Montaigne parece seguir o verossímil na própria Apologia e em diversos outros ensaios. Para resolver este problema exegético proponho uma dupla restrição do escopo do ataque à verossimilhança. Por um lado, mostro que o ataque visa mais a leitura epistêmica da verossimilhança proposta por Filo de Larissa do que ao conceito original de ordem exclusivamente prática de Carnéades. Por outro, situo-o em um contexto político-religioso bem específico. O ataque pirrônico à verossimilhança é a estratégia oferecida por Montaigne à rainha católica de Navarra e irmã do rei da França, Marguerite de Valois, para eventual uso nas polêmicas religiosas em sua corte majoritariamente protestante de Nérac. Esta contextualização soluciona também outros problemas exegéticos da Apologia, como o da defesa paradoxal de Sebond, a inconsistência aparente entre as respostas de Montaigne às duas objeções feitas ao livro de Sebond, e o problema do fideísmo.<br>In the Apology for Raymond Sebond, Montaigne launches a Pyrrhonian attack on Academic probability. However, Montaigne does follow probability in the Apology and other essays. In order to solve this exegetical problem I propose a double restriction of the attack. On the one hand, I show that it aims at Philo of Larissa's epistemic interpretation of the doctrine rather than at Carneades' original practical conception. On the other hand, I place the attack on a very specific historical context. Montaigne's Pyrrhonian attack on probability is a polemical strategy offered to Marguerite de Valois, the sister of the catholic king of France and wife of the protestant leader Henri de Navarre, to be used in the religious controversies in her predominant protestant court at Nérac. This context also solves other exegetical problems of the Apology such as Montaigne's paradoxical defense of Sebond, the apparent contradiction between the replies to the two objections to Sebond's book addressed by Montaigne, and the problem of fideism.
|