Summary: | Em 2014, foi criado no Brasil o Grupo de Trabalho Perus (GTP), uma equipe forense multidisciplinar dedicada à identificação dos remanescentes ósseos exumados, em 1990, da Vala de Perus. Por este nome, ficou conhecida a sepultura coletiva clandestina localizada no Cemitério Municipal Dom Bosco, no bairro de Perus, em São Paulo. Descoberta no final dos anos 1970, ela é a mais importante das valas comuns denunciadas como destino final de militantes desaparecidos pela Ditadura (1964-1985). É também a única a receber atenção científica e institucional. A partir de pesquisa etnográfica realizada junto ao GTP, este artigo analisa o processo de identificação posto em curso pela equipe, decompondo suas etapas, procedimentos, práticas e documentos. A partir dos dados apresentados, argumento que o objetivo da identificação é escrutinar o conjunto ósseo para dele destacar alguns corpos aos quais serão atribuídos identidade política. Discuto três aspectos do processo: a humanização dos remanescentes a partir de seu tratamento científico; a identificação como um processo classificatório; e a materialidade como geradora de verdades científicas relacionadas a processos de formação do Estado Nacional e de gestão de populações.
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