Entre viajantes, invernos e cidades: duas obras de Italo Calvino
Esse ensaio pretende realizar uma leitura comparada entre duas obras de Calvino, As cidades invisíveis e Se um viajante numa noite de inverno, observando como se configuram os movimentos de interrupção e transbordamento ali presentes. O recurso do “cancelamento sucessivo” em Se um viajante numa noit...
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Format: | Article |
Language: | Portuguese |
Published: |
Universidade Federal de Santa Catarina
2015-02-01
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Series: | Anuário de Literatura |
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Online Access: | https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/37037 |
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doaj-76821ed39eb14431be9a44454bb2e9f82020-11-25T03:56:00ZporUniversidade Federal de Santa CatarinaAnuário de Literatura1414-52352175-79172015-02-0120210.5007/2175-7917.2015v20nesp1p17023117Entre viajantes, invernos e cidades: duas obras de Italo CalvinoRebecca Pedroso Monteiro0Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e MucuriEsse ensaio pretende realizar uma leitura comparada entre duas obras de Calvino, As cidades invisíveis e Se um viajante numa noite de inverno, observando como se configuram os movimentos de interrupção e transbordamento ali presentes. O recurso do “cancelamento sucessivo” em Se um viajante numa noite de inverno (cujo limite é o “cancelamento do mundo”) pode operar como um “falso duplo” dos desdobramentos sucessivos de As cidades invisíveis, em sua complexa alegorização a partir de territórios tão infinitos quanto a memória, o desejo, os símbolos, as trocas, os mortos e o céu. Se de um lado (o do “viajante”) temos cortes sucessivos e abruptos que se desdobram em sempre novas operações decisórias e respectivos cortes, como o próprio Calvino reconheceu, de outro (o do “espaço percorrido pelo viajante”) temos um único tema (a cidade) dobrando-se sobre si mesmo em progressão (quase) geométrica. Entre um movimento e outro, o “catálogo indicativo das atitudes existenciais que conduzem a outros tantos caminhos obstruídos” sugerido pelo autor se mostra como um horizonte de desejo impossível, como uma engenhosa metáfora para algo que está entre o movimento do viajante e a imobilidade da paisagem, entre o corte e a multiplicação, entre o que sempre muda e o que nunca se movimenta. O intervalo liminar que todos esses recursos encenam e simbolizam é multiplicado (ou encerrado?) na trama de faltas e excessos que é potencializada por cada um dos livros, fazendo da experiência do indizível e da intraduzibilidade da experiência a força narrativa e poética dessas duas obras, e de tudo o que pode ser tecido entre elas. https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/37037CalvinoInterrupçãoTransbordamentoIntervaloLeitura |
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Esse ensaio pretende realizar uma leitura comparada entre duas obras de Calvino, As cidades invisíveis e Se um viajante numa noite de inverno, observando como se configuram os movimentos de interrupção e transbordamento ali presentes. O recurso do “cancelamento sucessivo” em Se um viajante numa noite de inverno (cujo limite é o “cancelamento do mundo”) pode operar como um “falso duplo” dos desdobramentos sucessivos de As cidades invisíveis, em sua complexa alegorização a partir de territórios tão infinitos quanto a memória, o desejo, os símbolos, as trocas, os mortos e o céu. Se de um lado (o do “viajante”) temos cortes sucessivos e abruptos que se desdobram em sempre novas operações decisórias e respectivos cortes, como o próprio Calvino reconheceu, de outro (o do “espaço percorrido pelo viajante”) temos um único tema (a cidade) dobrando-se sobre si mesmo em progressão (quase) geométrica. Entre um movimento e outro, o “catálogo indicativo das atitudes existenciais que conduzem a outros tantos caminhos obstruídos” sugerido pelo autor se mostra como um horizonte de desejo impossível, como uma engenhosa metáfora para algo que está entre o movimento do viajante e a imobilidade da paisagem, entre o corte e a multiplicação, entre o que sempre muda e o que nunca se movimenta. O intervalo liminar que todos esses recursos encenam e simbolizam é multiplicado (ou encerrado?) na trama de faltas e excessos que é potencializada por cada um dos livros, fazendo da experiência do indizível e da intraduzibilidade da experiência a força narrativa e poética dessas duas obras, e de tudo o que pode ser tecido entre elas.
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