Antropologia do devir: psicofármacos - abandono social - desejo

Neste artigo, discuto a"farmaceuticalização" da saúde mental no Brasil e registro os efeitos coletareis sociais e subjetivos que resultam do uso de novas tecnologias médicas em contextos urbanos de baixa renda. Analiso como uma mulher jovem e abandonada chamada Catarina reflete sobre os p...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: João Biehl
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo (USP) 2008-01-01
Series:Revista de Antropologia
Subjects:
Online Access:http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27285
Description
Summary:Neste artigo, discuto a"farmaceuticalização" da saúde mental no Brasil e registro os efeitos coletareis sociais e subjetivos que resultam do uso de novas tecnologias médicas em contextos urbanos de baixa renda. Analiso como uma mulher jovem e abandonada chamada Catarina reflete sobre os psicofármacos - a constelação de drogas para a qual foi levada - e como busca encontrar, sobretudo através da escrita, uma alternativa para o experimento mortal no qual literalmente se transforrmou. Ela afirma que sua"ex-família" a vê como um tratamento médico que não deu certo. A família depende desta explicação para se desculpar por tê-la abandonado. Em seus próprios termos:"Querer meu corpo como um remédio, meu corpo." A vida de Catarina, portanto, conta uma história mais ampla sobre a mudança de um sistema de valores e o destino dos laços sociais no atual modo de subjetivação dominante a serviço do capitalismo e da ciência global. Mas a linguagem e o desejo permanecem e Catarina integra sua experiência com as drogas numa nova percepção de si e em seu trabalho literário. Sua "literatura menor" sustenta uma ética etnográfica e nos dá um sentido de devir que os modelos dominantes de saúde considerariam impossíveis.
ISSN:0034-7701
1678-9857