Summary: | A análise da obra de João César Monteiro, enquanto unidade textual plural, implica um trabalho de pesquisa baseado na procura dos loci similes: segmentos dialógicos em que se ouve o eco de outros aglomerados textuais. A procura da cadeia de “textos nos textos” na obra de Monteiro, a análise da tipologia das relações transtextuais e dos lugares em que se manifestam permitem demonstrar o caráter de “palimpsesto” que caracteriza o seu cinema. Para que essas relações aconteçam, é necessária a presença de um elemento “estranho”, ou seja, de um outro texto e/ou de um leitor que, por sua vez, não é mais do que um outro texto, como o próprio Jurij Lotman o definiu. Trata-se, portanto, de analisar também as relações que se instauram entre o(s) indivíduo(s) e os excertos textuais, os quais, para funcionarem, precisam de alguém que os reconheça. Por essa razão, utilizamos os conceitos, elaborados por Umberto Eco, de “leitor empírico” e de “leitor modelo”, justificando, desta forma, o trabalho filológico regressivo cuja finalidade é a individuação e a interpretação dos elementos dialógicos presentes no universo monteiriano. O sincretismo linguístico e a coexistência de elementos heterogêneos proporcionam, desse modo, uma nova perspectiva exegética da obra de Monteiro, cuja matéria teórica está relacionada com os conceitos de não-linearidade e leitura vertical. Tais noções permitem-nos explicar a natureza profunda dos blocos narrativos autônomos que compõem a narrativa fílmica e que libertam Monteiro da constrição da verosimilhança própria das práticas cinematográficas ditas dominantes.
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