Summary: | A presente tese analisa o Projeto Educacional da Itaipu Binacional, viabilizado nas três Vilas Habitacionais e no Canteiro de Obras da margem esquerda brasileira da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, entre 1974 e 1985. Fez parte deste projeto toda a estrutura ideológica implementada pela entidade, através da União de Construtoras – UNICON, responsável pelas obras civis de Itaipu. São analisadas as iniciativas de educação formal, efetivadas através do ensino regular do Anglo-Americano, técnico-profissionalizante do SENAI e Centro de Treinamento e Desenvolvimento da UNICON no Canteiro de Obras, e de alfabetização funcional e supletiva pela Escola do Canteiro; e não-formal, através das atividades culturais e desportivas realizadas pelos Centros Comunitários das Vilas Habitacionais e Canteiro de Obras. Resultante de conflitos diplomáticos entre Brasil, Paraguai e Argentina, a Usina Hidrelétrica de Itaipu foi construída em Foz do Iguaçu, região Oeste do Paraná, concretizando um dos grandes projetos dos governos militares no Brasil. O aumento da capacidade energética significava a infraestrutura necessária ao crescimento do parque industrial brasileiro, com o fortalecimento de indústrias nacionais dependentes de tecnologia externa e instalação de multinacionais e associadas. Porém, a construção da hidrelétrica gerou inúmeros impactos econômicos, ambientais, sociais e educacionais para Foz do Iguaçu e região Oeste do Paraná, devido ao alagamento de grandes áreas rurais e urbanas e inchaço populacional da cidade sede. Sob pressupostos do materialismo histórico-dialético, utilizei fontes bibliográficas, documentais e orais. O recorte histórico definido tem por justificativa a data de início e término da construção civil da Usina Hidrelétrica de Itaipu (1974-1985). A pesquisa me permitiu constatar que a educação formal e não-formal ofertada para os trabalhadores e seus dependentes na região do Projeto Itaipu foi diferenciada de acordo com a fração da classe trabalhadora a que eram destinadas, aprofundando a estratificação de classe que já era visível pelas diferenças qualitativas entre as Vilas Habitacionais A, B e C e alojamentos do Canteiro de Obras. Foram utilizadas estratégias para destinar educação de qualidade e voltada à “formação” generalista aos dependentes de trabalhadores dos altos níveis funcionais/fração de classe, enquanto aos trabalhadores e seus dependentes dos baixos níveis funcionais/fração de classe era oferta educação qualitativamente inferior, limitada ao “cuidado” e técnica-profissionalizante. Através da educação formal e não-formal o Projeto Educacional de Itaipu consolidou uma estrutura ideológica eficiente em disseminar valores éticos e morais de racionalidade, produtividade, disciplina, cooperação, respeito à hierarquia, civismo e meritocracia, adequados à manutenção da ordem nas Vilas Habitacionais e Canteiro de Obras e à formação da força de trabalho para as necessidades da obra, prioridade absoluta dos governos militares do Brasil e Paraguai.
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