Summary: | A produção artística e crítica contemporâneas têm colocado em questão a necessidade de observar perspectivas histórias antes silenciadas, de forma a opor-se e resistir ao apagamento de experiências e vivências de grupos, raças, etnias e cores diversas. Em um país como o Brasil, entretanto, caracterizado por desigualdades sociais gritantes, tal tentativa foi e é marcada pela disjunção e pela mediação. Esta mediação frequentemente é marcada por produções em que o intelectual, branco e da elite, organiza e edita a obra de alguém que testemunha outra vivência, o subalternizado, negro e pobre. Se por um lado a figura do intelectual é central para desvelar e inscrever tais histórias, por outro, a mediação não é imparcial, mas marcada por relações de poder. A proposta deste trabalho é introduzir questões relativas ao conceito de literatura de testemunho, literatura sobre o/do cárcere e analisar dois exemplos de tal literatura, os textos Sobrevivente André du Rap (2002) e Cela forte mulher (2003), de maneira a discutir como os textos se estruturam e problematizam a mediação radical da alteridade entre intelectuais e detentos, os seus impasses éticos e textuais, bem como refletir sobre a dificuldade em estabelecer uma (ou muitas) autoria(s) diante de uma certa apropriação autoral da voz do outro.
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