O CORPO EM ANÁLISE

De que maneira é a escuta psicoterapêutica, quando o foco de análise é o corpo? Essa é uma das questões, que está presente no cotidiano de psicoterapeutas, quando a psicoterapia é realizada por intermédio de análise do corpo, e com ela, seus significados inconscientes e/ou não. Cada cliente utiliza...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Rosani Gambatto
Format: Article
Language:English
Published: Universidade Federal do Ceará 2010-07-01
Series:Revista de Psicologia
Online Access:http://periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/69
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description De que maneira é a escuta psicoterapêutica, quando o foco de análise é o corpo? Essa é uma das questões, que está presente no cotidiano de psicoterapeutas, quando a psicoterapia é realizada por intermédio de análise do corpo, e com ela, seus significados inconscientes e/ou não. Cada cliente utiliza o corpo, como forma de expressão particular, e devido à necessidade de uma interpretação mais detalhada, a psicanálise, muitas vezes, é o instrumento para auxiliar no processo analítico. Temas envolvendo o corpo estão presentes nas mais diversas conversas do dia-a-dia, tornando-se um assunto cotidiano e popular. Esse corpo vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente na mídia, que considera a beleza física como sinônima de saúde, e, é esse corpo, ou essa noção popular de corpo, que chega às clínicas e consultórios psicoterapêuticos. Esse corpo que é investido de prazeres e alegrias, dores e angústias, que podem ocasionar frustrações quando não são atingidos os padrões de beleza desejados e/ou idealizados. É com essa visão de corpo e mais especificamente com a intenção de repensar a análise psicanalítica realizada nos settings, que Maria Helena Fernandes, em seu livro “Corpo”, reproduz na íntegra seu trabalho de pós-doutorado, realizado pela UNIFESP (Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina). A autora questiona o processo analítico realizado na maioria dos consultórios psicoterapêuticos, defrontando-se com os mais variados corpos: o corpo biológico, filosófico, histórico, estético, religioso, social, antropológico e o psicanalítico. O livro trata, portanto, de um fenômeno difícil de ser reduzido a um único determinante, sendo que, a compreensão sobre o corpo psicanalítico requer a revisão de expectativas da sociedade sobre beleza e saúde, bem como, o questionamento de psicólogos sobre suas atuações e práticas profissionais. A escrita do livro, assim, é moldada pela intersecção entre história, cultura, sociedade, corpo, ideais de beleza, psicanálise e clínica, tornando-se de real ou imaginária importância a psicoterapeutas que se preocupam com a sua atividade clínica, a fim de oferecer ao seu cliente uma escuta diferenciada. De acordo com a autora, percebe-se que no emprego cotidiano do termo corpo, o mesmo é estudado e tratado no âmbito do adoecimento somático do corpo doente. Fernandes enfatiza ao leitor sobre a psicopatologia do corpo na vida cotidiana e, considera que o corpo é depositório de conflitos internos. A autora utiliza como referência o eixo psicanalítico de Freud, e argumenta que, segundo essa teoria, o corpo não se confunde com o organismo biológico, objeto de estudo e intervenções médicas, mas sim, é o lugar no qual se desenrola o complexo jogo das relações entre o psíquico e o somático, tal concepção do corpo, permite colocar em evidência o somático, como sendo também, um lugar de realização de desejos inconscientes. A autora parte da hipótese de que, o discurso freudiano se desenvolve a partir da histeria e do sonho, que constitui assim, o eixo condutor de exploração da abordagem do corpo. A inovação freudiana foi precisamente a de possibilitar a compreensão de como esse corpo que, ao mesmo tempo nos identifica, também vai sendo construído com e a partir do contato com o outro. No livro são destacados os avanços teóricos, especialmente após 1920, que vão progressivamente ampliar as possibilidades de compreensão do corpo para além da lógica da representação, havendo assim, principalmente, implicações clínicas, passando a produzir um conhecimento do ponto de vista metapsicológico, colocando em evidência a eficácia da escuta analítica sobre o registro do corpo. Fernandes enfatiza que na teoria freudiana o corpo possui dois significados: o corpo real, objeto material e visível, que ocupa um espaço e pode ser designado por uma certa coesão anatômica, e outro corpo, princípio de vida e individualização, com significados peculiares. Ainda relata a importância da pulsão quando se trata do corpo, sendo que o corpo é habitado pelas pulsões, e dessa maneira, o corpo é pulsional, autoerôgeno e narcísico, conceitos esses, de relevância à questão do corpo em psicanálise. Após a construção teórica do corpo psicanalítico, Fernandes enfatiza os desdobramentos analíticos no transcorrer do processo terapêutico, focalizando o corpo em seu conceito complexo, envolvendo assim, as possíveis tramas inconscientes. A autora relata da importância da escuta psicanalítica, diferenciando-a da escuta médica, sendo que, a função do psicoterapeuta muito mais do que escutar é interpretar o que está sendo dito pelo cliente. Destaca, especialmente, os clientes que vêm encaminhados ao consultório psicanalítico por médicos, pacientes que, em sua maioria, possuem doenças psicossomáticas, o que, para a autora é uma necessidade para o paciente. Assim, a doença ou o órgão atingido, são lugares de depósitos, seja de angústia, medo, insegurança, rancor ou desejos inconscientes, sendo que, o que importa ao indivíduo é manter certa dose de sofrimento. Desse modo, o livro de Maria Helena Fernandes, consiste no resultado de um trabalho de experiência não só de docência mas, e principalmente, de clínica. Trata-se de uma leitura envolvente, a qual no mínimo desperta questionamentos em relação à prática em consultório psicanalítico. Ao leitor, possibilita a percepção de que o corpo, além de ser um meio de expressão, seja de gestos, movimentos ou olhares, é o elemento investido de vários desejos, conscientes ou inconscientes, perpassando as sensações. Assim, cabe ao analista investir no corpo do cliente, acolhendo-o e transformando-o assim, em um “corpo falado”, aberto à abordagem psicanalítica. A leitura desse livro torna-se essencial a estudantes, psicólogos e profissionais psicanalíticos que, a fim de realizar uma revisão psicanalítica em relação ao corpo, buscam e valorizam o aprimoramento profissional.
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Esse corpo vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente na mídia, que considera a beleza física como sinônima de saúde, e, é esse corpo, ou essa noção popular de corpo, que chega às clínicas e consultórios psicoterapêuticos. Esse corpo que é investido de prazeres e alegrias, dores e angústias, que podem ocasionar frustrações quando não são atingidos os padrões de beleza desejados e/ou idealizados. É com essa visão de corpo e mais especificamente com a intenção de repensar a análise psicanalítica realizada nos settings, que Maria Helena Fernandes, em seu livro “Corpo”, reproduz na íntegra seu trabalho de pós-doutorado, realizado pela UNIFESP (Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina). A autora questiona o processo analítico realizado na maioria dos consultórios psicoterapêuticos, defrontando-se com os mais variados corpos: o corpo biológico, filosófico, histórico, estético, religioso, social, antropológico e o psicanalítico. O livro trata, portanto, de um fenômeno difícil de ser reduzido a um único determinante, sendo que, a compreensão sobre o corpo psicanalítico requer a revisão de expectativas da sociedade sobre beleza e saúde, bem como, o questionamento de psicólogos sobre suas atuações e práticas profissionais. A escrita do livro, assim, é moldada pela intersecção entre história, cultura, sociedade, corpo, ideais de beleza, psicanálise e clínica, tornando-se de real ou imaginária importância a psicoterapeutas que se preocupam com a sua atividade clínica, a fim de oferecer ao seu cliente uma escuta diferenciada. De acordo com a autora, percebe-se que no emprego cotidiano do termo corpo, o mesmo é estudado e tratado no âmbito do adoecimento somático do corpo doente. Fernandes enfatiza ao leitor sobre a psicopatologia do corpo na vida cotidiana e, considera que o corpo é depositório de conflitos internos. A autora utiliza como referência o eixo psicanalítico de Freud, e argumenta que, segundo essa teoria, o corpo não se confunde com o organismo biológico, objeto de estudo e intervenções médicas, mas sim, é o lugar no qual se desenrola o complexo jogo das relações entre o psíquico e o somático, tal concepção do corpo, permite colocar em evidência o somático, como sendo também, um lugar de realização de desejos inconscientes. A autora parte da hipótese de que, o discurso freudiano se desenvolve a partir da histeria e do sonho, que constitui assim, o eixo condutor de exploração da abordagem do corpo. A inovação freudiana foi precisamente a de possibilitar a compreensão de como esse corpo que, ao mesmo tempo nos identifica, também vai sendo construído com e a partir do contato com o outro. No livro são destacados os avanços teóricos, especialmente após 1920, que vão progressivamente ampliar as possibilidades de compreensão do corpo para além da lógica da representação, havendo assim, principalmente, implicações clínicas, passando a produzir um conhecimento do ponto de vista metapsicológico, colocando em evidência a eficácia da escuta analítica sobre o registro do corpo. Fernandes enfatiza que na teoria freudiana o corpo possui dois significados: o corpo real, objeto material e visível, que ocupa um espaço e pode ser designado por uma certa coesão anatômica, e outro corpo, princípio de vida e individualização, com significados peculiares. Ainda relata a importância da pulsão quando se trata do corpo, sendo que o corpo é habitado pelas pulsões, e dessa maneira, o corpo é pulsional, autoerôgeno e narcísico, conceitos esses, de relevância à questão do corpo em psicanálise. Após a construção teórica do corpo psicanalítico, Fernandes enfatiza os desdobramentos analíticos no transcorrer do processo terapêutico, focalizando o corpo em seu conceito complexo, envolvendo assim, as possíveis tramas inconscientes. A autora relata da importância da escuta psicanalítica, diferenciando-a da escuta médica, sendo que, a função do psicoterapeuta muito mais do que escutar é interpretar o que está sendo dito pelo cliente. Destaca, especialmente, os clientes que vêm encaminhados ao consultório psicanalítico por médicos, pacientes que, em sua maioria, possuem doenças psicossomáticas, o que, para a autora é uma necessidade para o paciente. Assim, a doença ou o órgão atingido, são lugares de depósitos, seja de angústia, medo, insegurança, rancor ou desejos inconscientes, sendo que, o que importa ao indivíduo é manter certa dose de sofrimento. Desse modo, o livro de Maria Helena Fernandes, consiste no resultado de um trabalho de experiência não só de docência mas, e principalmente, de clínica. Trata-se de uma leitura envolvente, a qual no mínimo desperta questionamentos em relação à prática em consultório psicanalítico. Ao leitor, possibilita a percepção de que o corpo, além de ser um meio de expressão, seja de gestos, movimentos ou olhares, é o elemento investido de vários desejos, conscientes ou inconscientes, perpassando as sensações. Assim, cabe ao analista investir no corpo do cliente, acolhendo-o e transformando-o assim, em um “corpo falado”, aberto à abordagem psicanalítica. A leitura desse livro torna-se essencial a estudantes, psicólogos e profissionais psicanalíticos que, a fim de realizar uma revisão psicanalítica em relação ao corpo, buscam e valorizam o aprimoramento profissional.http://periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/69