A cidade imaginada: controvérsias rurais-urbanas em Lima Barreto
A obra de Afonso Henriques Lima Barreto (1881-1922) é uma das mais singulares da literatura brasileira, transitando entre crítica social e sátiras ácidas. Lima Barreto apresenta um quadro indelével da transição do Império para República no Brasil e do destino dos negros, não incorporados ao “novo” p...
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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2018-06-01
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Series: | Estudos Sociedade e Agricultura |
Online Access: | https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/1126 |
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doaj-4f4ac36b51cc496c953c0c887ea9f10e2020-11-25T01:28:35ZporUniversidade Federal Rural do Rio de JaneiroEstudos Sociedade e Agricultura1413-05802526-77522018-06-0126240242510.36920/esa-v26n2-71126A cidade imaginada: controvérsias rurais-urbanas em Lima BarretoRodrigo Kummer0Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), BrasilA obra de Afonso Henriques Lima Barreto (1881-1922) é uma das mais singulares da literatura brasileira, transitando entre crítica social e sátiras ácidas. Lima Barreto apresenta um quadro indelével da transição do Império para República no Brasil e do destino dos negros, não incorporados ao “novo” projeto social. Não escreveu como cronista histórico, senão como um caricaturista e depoente particular. O romancista era mulato e pobre, e sofrera os estigmas de sua condição desde cedo. O apadrinhamento e os esforços da família lhe permitiram os estudos, embora não os concluísse. Projetos de glória castrados pela imanência das injustiças que pululavam na eminente cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. As linhas traçadas por Lima revelam uma cidade desigual, preconceituosa e corrupta. O subúrbio surge como antítese de cidade. Muito mais ruralesco que o Centro ou a Zona Sul, nele via-se crescerem os casebres de operários, mascates, em um sem-número de excluídos da modernidade republicana. A propalada modernidade chegou, porém, como violenta forma de higienização. Cabedal da República, as reformas sociais eram em geral reordenamento entre o poder oligárquico e a burguesia urbana. De toda forma, os pobres, e destes, os negros, pagavam maior pecúlio ante as exigências de tornar o Rio uma nova Paris. Em meio a esses momentos marcantes da construção da nação que somos, Lima apresenta uma versão pragmática. Nem os homens, nem os ares, nem a terra. O problema reside nos mecanismos empregados para pôr em ação essas variáveis todas. Autocrítica seria o termo mais adequado. Como ela ficava sufocada na vida social, coube tolhê-la postumamente em sua obra. Dela, neste empreendimento, interessa problematizar a interpretação que Lima produziu sobre as relações urbanas no Rio de Janeiro dos primeiros anos da República. Aquela cidade foi representada como um misto de simpatia e pessimismo, ampliando os horizontes suburbanos e apontando para o ambiente de ruralismo e pobreza que definia o país. KUMMER, Rodrigo. A cidade imaginada: controvérsias rurais-urbanas em Lima Barreto. Estudos Sociedade e Agricultura, jun. 2018, v. 26, n. 2, p. 402-425, ISSN 2526-7752.https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/1126 |
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A obra de Afonso Henriques Lima Barreto (1881-1922) é uma das mais singulares da literatura brasileira, transitando entre crítica social e sátiras ácidas. Lima Barreto apresenta um quadro indelével da transição do Império para República no Brasil e do destino dos negros, não incorporados ao “novo” projeto social. Não escreveu como cronista histórico, senão como um caricaturista e depoente particular. O romancista era mulato e pobre, e sofrera os estigmas de sua condição desde cedo. O apadrinhamento e os esforços da família lhe permitiram os estudos, embora não os concluísse. Projetos de glória castrados pela imanência das injustiças que pululavam na eminente cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. As linhas traçadas por Lima revelam uma cidade desigual, preconceituosa e corrupta. O subúrbio surge como antítese de cidade. Muito mais ruralesco que o Centro ou a Zona Sul, nele via-se crescerem os casebres de operários, mascates, em um sem-número de excluídos da modernidade republicana. A propalada modernidade chegou, porém, como violenta forma de higienização. Cabedal da República, as reformas sociais eram em geral reordenamento entre o poder oligárquico e a burguesia urbana. De toda forma, os pobres, e destes, os negros, pagavam maior pecúlio ante as exigências de tornar o Rio uma nova Paris. Em meio a esses momentos marcantes da construção da nação que somos, Lima apresenta uma versão pragmática. Nem os homens, nem os ares, nem a terra. O problema reside nos mecanismos empregados para pôr em ação essas variáveis todas. Autocrítica seria o termo mais adequado. Como ela ficava sufocada na vida social, coube tolhê-la postumamente em sua obra. Dela, neste empreendimento, interessa problematizar a interpretação que Lima produziu sobre as relações urbanas no Rio de Janeiro dos primeiros anos da República. Aquela cidade foi representada como um misto de simpatia e pessimismo, ampliando os horizontes suburbanos e apontando para o ambiente de ruralismo e pobreza que definia o país.
KUMMER, Rodrigo. A cidade imaginada: controvérsias rurais-urbanas em Lima Barreto. Estudos Sociedade e Agricultura, jun. 2018, v. 26, n. 2, p. 402-425, ISSN 2526-7752. |
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