Summary: | A música dos séculos XX e XXI apresenta um conjunto grande de especificidades, dentre as quais está a tensão entre os campos erudito e popular, conceitos que têm sido revisados no âmbito da emergência de uma indústria cultural, da reinvenção da orquestra clássica, do isolamento da chamada música “séria” contemporânea em centros universitários e do plano popular abrangendo um número cada vez maior de manifestações, muitas das quais díspares entre si, sob certos aspectos. A dissonância métrica é um elemento fortemente presente na sonoridade romântica da música de concerto do século XIX, sistematizada enquanto conceito a partir dos escritos de Hector Berlioz, com ampla contribuição da teoria musical recente. É, como tal, um dos tantos elementos que permanecem insistentemente nas mais diferentes manifestações musicais dos séculos XX e XXI. Este trabalho tem como objetivo indicar a existência de dissonâncias métricas em repertórios múltiplos, comumente identificados em contextos distintos a partir dos amplos e difusos campos do erudito e do popular. Revisa-se, inicialmente, definições e categorias de culturas, partindo-se para a identificação dos espaços fronteiriços entre cada categoria. Por fim, após se relacionar certo número de exemplos dos mais distintos contextos, conclui-se que a separação do erudito e do popular se torna inoperante, e que a dissonância métrica pode ser compreendida como um elemento de convergência entre ambos.
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