Pesquisas de abordagem qualitativa
http://dx.doi.org/10.5216/ree.v14i2.13628 Nas últimas quatro décadas houve um aumento considerável de pesquisas qualitativas no campo das ciências da saúde, extrapolando seu campo original nas ciências sociais, conforme é possível observar nas bases eletrônicas de literatura científica. Este fenô...
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Universidade Federal de Goias
2012-06-01
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Series: | Revista Eletrônica de Enfermagem |
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http://dx.doi.org/10.5216/ree.v14i2.13628
Nas últimas quatro décadas houve um aumento considerável de pesquisas qualitativas no campo das ciências da saúde, extrapolando seu campo original nas ciências sociais, conforme é possível observar nas bases eletrônicas de literatura científica. Este fenômeno não se restringe apenas à produção científica brasileira, mas estende-se à internacional, especialmente à norte-americana, canadense e à de alguns países europeus.
No Brasil, desde meados dos anos de 1980 a área da Enfermagem acompanha fortemente essa tendência no desenvolvimento de teses e dissertações de natureza fenomenológica, etnográfica, entre outras, permitindo compreender o ser humano em sua complexidade e profundidade, bem como o processo assistencial em saúde. No campo da saúde a Enfermagem foi pioneira nessa modalidade de estudos, tornando-se ao longo dos anos importante referência nacional a diversas áreas. Esse movimento talvez tenha ocorrido devido à forte influência das relações interpessoais no processo assistencial da Enfermagem, ou ainda porque muitas respostas obtidas por estudos essencialmente quantitativos foram insatisfatórias ou incompletas.
Em princípio, a pesquisa qualitativa pode ser entendida como aquela que produz achados não provenientes de quaisquer procedimentos ou formas de quantificação. Por meio desta modalidade de pesquisa é possível compreender sobre o universo simbólico e particular das experiências, comportamentos, emoções e sentimentos vividos, ou ainda, compreender sobre o funcionamento organizacional, os movimentos sociais, os fenômenos culturais e as interações entre as pessoas, seus grupos sociais e as instituições(1-2).
O debate “qualitativo versus quantitativo” tem oferecido importantes subsídios para se compreender os limites e possibilidades de pesquisas nessas abordagens. No entanto, em algumas delas ainda permanecem equívocos sobre o que realmente constitui a pesquisa qualitativa. Para diferentes pessoas o termo “pesquisa qualitativa” pode assumir significados distintos(1), sendo comum os pesquisadores coletarem dados por meio de técnicas entendidas como qualitativas (entrevistas abertas ou semiestruturadas, observações, entre outras), porém codificam estatisticamente tais dados e, ainda assim, denominam sua pesquisa como “qualitativa.” Nesse caso, a pesquisa possui forte vínculo quantitativo, cabendo ao pesquisador cuidar para que o uso de técnicas qualitativas em estudo quantitativo não prejudiquem os resultados e a confiabilidade da pesquisa.
Na condução da pesquisa qualitativa é essencial o pesquisador em campo de estudo para garantir que se desenvolva uma relação de confiança entre o pesquisador e o participante, quebrando a situação “hierárquica” e polarizada entre ambos e, assim, aproximar-se e conhecer o mundo simbólico e subjetivo. Não há como desenvolver uma pesquisa qualitativa sem que o pesquisador se envolva com o campo e os respectivos atores, visando compreender os processos inerentes àquela realidade. A intersubjetividade é necessária para que se desenvolva a pesquisa qualitativa, seja por meio de quaisquer técnica de coleta de dados que opte o pesquisador o qual, por sua vez deve observar o rigor metodológico da mesma maneira que em qualquer outra modalidade de pesquisa científica.
Isto também quer dizer que além do necessário rigor com as técnicas de coleta de dados, o pesquisador deve estar atento aos movimentos dos participantes no contexto da pesquisa, trabalhando na perspectiva de processo-interatividade. O movimento de coleta de dados, portanto, é construído por ambos, com forte ênfase ao processo da pesquisa com vistas a esgotar a teia de significados inerentes ao fenômeno estudado. Esses cuidados são fundamentais para a produção de dados consistentes e confiáveis que permitam uma análise em profundidade dos mesmos.
Para que uma pesquisa qualitativa se desenvolva é necessário uma sustentação teórica competente e rigor metodológico, mas a criatividade do pesquisador deve se fazer presente em todo o processo da pesquisa(2). Em outras palavras, embora o pesquisador qualitativo deva sustentar a pesquisa por referenciais teóricos e metodológicos que norteiem todo o processo de estudo é imprescindível cuidar para que a técnica não prevaleça no processo da pesquisa como um todo, abrindo espaço para a criatividade acompanha-lo ao longo de toda a pesquisa.
Considerando que os pesquisadores que trabalham com abordagens qualitativas são responsáveis pela disseminação e consolidação das mesmas é fundamental que na formação de jovens pesquisadores seja enfatizada a importância da consistência e do rigor na elaboração de projetos de pesquisa qualitativa, de modo a sustentar todo o processo de investigação e produzir achados consistentes e inéditos que contribuam com o avanço do conhecimento científico, neste caso, nas áreas de Enfermagem e de Saúde.
REFERÊNCIAS
1. Strauss A, Corbin J. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing grounded theory. 2nd ed. Thousand Oaks: Sage Publications; 1998.
2. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27th ed. Petrópolis: Vozes; 2008.
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No Brasil, desde meados dos anos de 1980 a área da Enfermagem acompanha fortemente essa tendência no desenvolvimento de teses e dissertações de natureza fenomenológica, etnográfica, entre outras, permitindo compreender o ser humano em sua complexidade e profundidade, bem como o processo assistencial em saúde. No campo da saúde a Enfermagem foi pioneira nessa modalidade de estudos, tornando-se ao longo dos anos importante referência nacional a diversas áreas. Esse movimento talvez tenha ocorrido devido à forte influência das relações interpessoais no processo assistencial da Enfermagem, ou ainda porque muitas respostas obtidas por estudos essencialmente quantitativos foram insatisfatórias ou incompletas. Em princípio, a pesquisa qualitativa pode ser entendida como aquela que produz achados não provenientes de quaisquer procedimentos ou formas de quantificação. Por meio desta modalidade de pesquisa é possível compreender sobre o universo simbólico e particular das experiências, comportamentos, emoções e sentimentos vividos, ou ainda, compreender sobre o funcionamento organizacional, os movimentos sociais, os fenômenos culturais e as interações entre as pessoas, seus grupos sociais e as instituições(1-2). O debate “qualitativo versus quantitativo” tem oferecido importantes subsídios para se compreender os limites e possibilidades de pesquisas nessas abordagens. No entanto, em algumas delas ainda permanecem equívocos sobre o que realmente constitui a pesquisa qualitativa. Para diferentes pessoas o termo “pesquisa qualitativa” pode assumir significados distintos(1), sendo comum os pesquisadores coletarem dados por meio de técnicas entendidas como qualitativas (entrevistas abertas ou semiestruturadas, observações, entre outras), porém codificam estatisticamente tais dados e, ainda assim, denominam sua pesquisa como “qualitativa.” Nesse caso, a pesquisa possui forte vínculo quantitativo, cabendo ao pesquisador cuidar para que o uso de técnicas qualitativas em estudo quantitativo não prejudiquem os resultados e a confiabilidade da pesquisa. Na condução da pesquisa qualitativa é essencial o pesquisador em campo de estudo para garantir que se desenvolva uma relação de confiança entre o pesquisador e o participante, quebrando a situação “hierárquica” e polarizada entre ambos e, assim, aproximar-se e conhecer o mundo simbólico e subjetivo. Não há como desenvolver uma pesquisa qualitativa sem que o pesquisador se envolva com o campo e os respectivos atores, visando compreender os processos inerentes àquela realidade. A intersubjetividade é necessária para que se desenvolva a pesquisa qualitativa, seja por meio de quaisquer técnica de coleta de dados que opte o pesquisador o qual, por sua vez deve observar o rigor metodológico da mesma maneira que em qualquer outra modalidade de pesquisa científica. Isto também quer dizer que além do necessário rigor com as técnicas de coleta de dados, o pesquisador deve estar atento aos movimentos dos participantes no contexto da pesquisa, trabalhando na perspectiva de processo-interatividade. O movimento de coleta de dados, portanto, é construído por ambos, com forte ênfase ao processo da pesquisa com vistas a esgotar a teia de significados inerentes ao fenômeno estudado. Esses cuidados são fundamentais para a produção de dados consistentes e confiáveis que permitam uma análise em profundidade dos mesmos. Para que uma pesquisa qualitativa se desenvolva é necessário uma sustentação teórica competente e rigor metodológico, mas a criatividade do pesquisador deve se fazer presente em todo o processo da pesquisa(2). Em outras palavras, embora o pesquisador qualitativo deva sustentar a pesquisa por referenciais teóricos e metodológicos que norteiem todo o processo de estudo é imprescindível cuidar para que a técnica não prevaleça no processo da pesquisa como um todo, abrindo espaço para a criatividade acompanha-lo ao longo de toda a pesquisa. Considerando que os pesquisadores que trabalham com abordagens qualitativas são responsáveis pela disseminação e consolidação das mesmas é fundamental que na formação de jovens pesquisadores seja enfatizada a importância da consistência e do rigor na elaboração de projetos de pesquisa qualitativa, de modo a sustentar todo o processo de investigação e produzir achados consistentes e inéditos que contribuam com o avanço do conhecimento científico, neste caso, nas áreas de Enfermagem e de Saúde. REFERÊNCIAS 1. Strauss A, Corbin J. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing grounded theory. 2nd ed. Thousand Oaks: Sage Publications; 1998. 2. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27th ed. Petrópolis: Vozes; 2008. https://www.revistas.ufg.br/fen/article/view/13628 |