EM TORNO DA REVISÃO DE CIL II 265
Nos meados do séc. XVIII um lavrador descobriu acidentalmente entre Armês e Lameiras, Sintra – “Zona Oeste” do Município Olisiponense – uma lápide romana com duplo epitáfio gravado em duas colunas paralelas. Deste achado, entretanto novamente perdido, possuímos apenas uma transcrição manuscrita con...
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Coimbra University Press
2016-12-01
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Series: | Conimbriga |
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Online Access: | https://impactum-journals.uc.pt/conimbriga/article/view/5092 |
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doaj-3b39358f41fb489a9515b4ae42ee97722020-11-25T03:02:44ZporCoimbra University PressConimbriga0084-91891647-86572016-12-015510.14195/1647-8657_55_7EM TORNO DA REVISÃO DE CIL II 265José Cardim Ribeiro0Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas Nos meados do séc. XVIII um lavrador descobriu acidentalmente entre Armês e Lameiras, Sintra – “Zona Oeste” do Município Olisiponense – uma lápide romana com duplo epitáfio gravado em duas colunas paralelas. Deste achado, entretanto novamente perdido, possuímos apenas uma transcrição manuscrita conservada na Biblioteca Nacional de Lisboa (COD. 425 fl. 94), exarada por um anónimo antiquarista que chegou a analisar o monumento in loco. Porém não se apercebeu estar perante uma epígrafe distribuída em duas colunas, copiando pois as letras ao corrido, sem respeitar nem separação de colunas nem, mesmo, de linhas, resultando assim um texto caótico e a priori incompreensível. Hübner (in CIL II 265) tentou reconstituir o original, mas pressupondo que a primeira palavra, que considerou abreviada, era comum aos dois epitáfios, enveredou por um caminho complexo e equívoco que admitia dois antropónimos supostamente paleohispânicos de todo desconhecidos – *Alteciniris (gen.) e *Licassi (gen.) –, bem como o desempenho da augustalidade por escravos. Devido à autoridade do autor de CIL II estas anomalias foram aceites por outros investigadores, alguns de incontestável prestígio, embora também tenham surgido vozes discordantes e mesmo cépticas. Reexaminando o manuscrito setecentista, procurámos nele indícios que nos permitissem, sem preconceitos prévios, elaborar uma renovada restituição da epígrafe original. O resultado conseguido aponta para um texto normal e desprovido de estranhezas ou irregularidades: trata-se tão-só, afinal, dos paralelos epitáfios de dois escravos, Augustinus G(aii) Licini(i) Bassi ser(vus) e Euticus L(ucii) Cassi(i) Alteris ser(vus) – que aliás não apresentam quaisquer cargos mas, apenas, os respectivos elementos onomásticos identificadores. Mais tarde veio a surgir, no mesmo sítio arqueológico, uma nova lápide cujo teor confirma, de algum modo, a nossa anterior reconstituição: trata-se da estela funerária de [-] Licinius Bassus. https://impactum-journals.uc.pt/conimbriga/article/view/5092Augustaisantroponímia paleohispânicareconstituição epigráfica |
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Nos meados do séc. XVIII um lavrador descobriu acidentalmente entre Armês e Lameiras, Sintra – “Zona Oeste” do Município Olisiponense – uma lápide romana com duplo epitáfio gravado em duas colunas paralelas. Deste achado, entretanto novamente perdido, possuímos apenas uma transcrição manuscrita conservada na Biblioteca Nacional de Lisboa (COD. 425 fl. 94), exarada por um anónimo antiquarista que chegou a analisar o monumento in loco. Porém não se apercebeu estar perante uma epígrafe distribuída em duas colunas, copiando pois as letras ao corrido, sem respeitar nem separação de colunas nem, mesmo, de linhas, resultando assim um texto caótico e a priori incompreensível. Hübner (in CIL II 265) tentou reconstituir o original, mas pressupondo que a primeira palavra, que considerou abreviada, era comum aos dois epitáfios, enveredou por um caminho complexo e equívoco que admitia dois antropónimos supostamente paleohispânicos de todo desconhecidos – *Alteciniris (gen.) e *Licassi (gen.) –, bem como o desempenho da augustalidade por escravos. Devido à autoridade do autor de CIL II estas anomalias foram aceites por outros investigadores, alguns de incontestável prestígio, embora também tenham surgido vozes discordantes e mesmo cépticas. Reexaminando o manuscrito setecentista, procurámos nele indícios que nos permitissem, sem preconceitos prévios, elaborar uma renovada restituição da epígrafe original. O resultado conseguido aponta para um texto normal e desprovido de estranhezas ou irregularidades: trata-se tão-só, afinal, dos paralelos epitáfios de dois escravos, Augustinus G(aii) Licini(i) Bassi ser(vus) e Euticus L(ucii) Cassi(i) Alteris ser(vus) – que aliás não apresentam quaisquer cargos mas, apenas, os respectivos elementos onomásticos identificadores. Mais tarde veio a surgir, no mesmo sítio arqueológico, uma nova lápide cujo teor confirma, de algum modo, a nossa anterior reconstituição: trata-se da estela funerária de [-] Licinius Bassus.
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