Summary: | O artigo examina a discussão intelectual em torno da ideia de América Latina, com o objetivo principal de mostrar como tal debate repercutiu no âmbito do futebol profissional da região. O argumento proposto é o de que a concepção de uma unidade da América Latina encontrou especial dificuldade de construção identitária esportiva ao longo de sua história, mais precisamente entre fins do século XIX e o final do século passado. Se os territórios geográficos costumam atravessar períodos históricos que oscilam entre unidade e fragmentação, entre aproximação e distanciamento, entre identidade e diferença, o caso latino-americano chama a atenção pelas características particulares de sua herança colonial. Sem ser apenas uma dimensão do passado, tais influências se tornaram mais complexas no decorrer do século XX, quando a emergência dos Estados Unidos como potência hegemônica passou a ter efeitos decisivos na economia, na política e na cultura latino-americanas. O propósito do presente artigo é sugerir que, embora a hegemonia estadunidense seja inconteste em diversas esferas da vida coletiva na América Latina, tal presença não se deu de modo tão direto no âmbito dos esportes modernos, especialmente no que tange à prática do futebol profissional de alto rendimento, por meio de torneios intercontinentais de clubes e seleções. Nesse domínio, a alteridade permaneceu voltada para o outro lado do Atlântico, seja para a Grã-Bretanha, inventora e codificadora das práticas esportivas espetacularizadas, sejam para os países europeus latinos – França, Itália, Espanha e Portugal – que difundiram e influenciaram em termos institucionais e culturais os estilos e as técnicas de jogo na América do Sul.
|