Sobre a psicogênese do "mal de engasgo"
O A. ressalta o aspecto psicológico da etiologia do cardiospasmo ou mal de engasgo, assunto até agora não abordado nos meios científicos brasileiros. Sem pretender afastar outros elementos causais que tenham sido, porventura, verificados e que poderão, talvez, agir concomitantemente, o A. é de opini...
Main Author: | |
---|---|
Format: | Article |
Language: | English |
Published: |
Academia Brasileira de Neurologia (ABNEURO)
1947-06-01
|
Series: | Arquivos de Neuro-Psiquiatria |
Online Access: | http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1947000200002&lng=en&tlng=en |
id |
doaj-27b0796578574adb9a531a0787abdc1f |
---|---|
record_format |
Article |
spelling |
doaj-27b0796578574adb9a531a0787abdc1f2020-11-24T22:37:19ZengAcademia Brasileira de Neurologia (ABNEURO)Arquivos de Neuro-Psiquiatria1678-42271947-06-0152125134S0004-282X1947000200002Sobre a psicogênese do "mal de engasgo"Durval Marcondes0Universidade de São PauloO A. ressalta o aspecto psicológico da etiologia do cardiospasmo ou mal de engasgo, assunto até agora não abordado nos meios científicos brasileiros. Sem pretender afastar outros elementos causais que tenham sido, porventura, verificados e que poderão, talvez, agir concomitantemente, o A. é de opinião que o mal de engasgo é um disturbio funcional condicionado psìquicamente, cujas conseqüências se tornam irreversíveis depois de certo tempo. As conclusões apresentadas baseiam-se no material fornecido por pacientes em tratamento psicanalítico que apresentam fenômenos disfágicos, e por vários casos das clínicas de orientação infantil entre cujos problemas se incluem, além da dificuldade de engulir, a anorexia e a bulimia. Com respeito às atividades emocionais típicas que formam o substrato psicológico do mal de engasgo, o ponto fundamental está em que êste representa um compromisso, expresso ao nível oral, entre tendências passivo-receptivas e ativo-expulsivas. A essa situação psíquica correspondem condições de ambiente, atuais ou pretéritas, que, de modo contraditório, favorecem uma atitude de dependência infantil, ao mesmo tempo que acarretam repetidas frustrações. Trata-se, em geral, de mães dominadoras que, enquanto superprotegem a criança, agem para com ela com demasiado rigor. A superproteção centraliza-se sobretudo no que se refere aos alimentos, que se investem, assim, de grande significado emocional. O A. apresenta o resumo de uma observação clínica que apoia seu ponto de vista. Também a anorexia e a bulimia, em seu substrato psicodinâmico, estão relacionadas com o problema do apego e da emancipação e giram em torno da pessoa da mãe e da função alimentar. A solução do conflito faz-se, porém, num dos casos, pela rejeição do alimento e, noutro, pela avidez. O mal de engasgo constitui o meio têrmo entre os dois extremos. Existem, igualmente, nas neuroses gástricas e em sua conseqüência direta, a úlcera péptica, desejos oral-receptivos que são fortemente rejeitados, por incompatíveis com as aspirações de independência do indivíduo; a solução escolhida é, porém, uma reação caracterológica que consiste numa atitude de empreendimento e de responsabilidade ante os demais. O tipo gástrico é, pois, mais complexo e menos primitivo: enquanto que os outros tipos mencionados buscam resolver seus problemas no plano digestivo, ele tenta fazê-lo no plano social; não o consegue, entretanto, integralmente, e a expressão de seu fracasso está nos distúrbios corporais que apresenta. Importante questão fica fora do âmbito do material do A.: a da freqüente associação entre megaesôfago e megacólon. Acredita, porém, que ambos correspondem a fases diversas da evolução libídica, em que entram, em diferentes doses, elementos orais e anais. Refere-se, a seguir, à componente anal que existe, até certo ponto, na estruturação afetiva do cardiospasmo e que falta, na mesma proporção, em outras afecções das vias digestivas superiores. O material utilizado nada esclarece quanto aos distúrbios cardíacos e demais manifestações descritas em outros órgãos e aparelhos. O A. acredita não haver qualquer contra-senso em encarar as alterações his-topatológicas como fenômenos meramente secundários. Muitos dos atuais pontos obscuros desse capítulo da patologia serão, sem dúvida, afastados quando, junto aos demais estudiosos do assunto, estejam psiquiatras e assistentes sociais orientados psicanalìticamente.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1947000200002&lng=en&tlng=en |
collection |
DOAJ |
language |
English |
format |
Article |
sources |
DOAJ |
author |
Durval Marcondes |
spellingShingle |
Durval Marcondes Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" Arquivos de Neuro-Psiquiatria |
author_facet |
Durval Marcondes |
author_sort |
Durval Marcondes |
title |
Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
title_short |
Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
title_full |
Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
title_fullStr |
Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
title_full_unstemmed |
Sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
title_sort |
sobre a psicogênese do "mal de engasgo" |
publisher |
Academia Brasileira de Neurologia (ABNEURO) |
series |
Arquivos de Neuro-Psiquiatria |
issn |
1678-4227 |
publishDate |
1947-06-01 |
description |
O A. ressalta o aspecto psicológico da etiologia do cardiospasmo ou mal de engasgo, assunto até agora não abordado nos meios científicos brasileiros. Sem pretender afastar outros elementos causais que tenham sido, porventura, verificados e que poderão, talvez, agir concomitantemente, o A. é de opinião que o mal de engasgo é um disturbio funcional condicionado psìquicamente, cujas conseqüências se tornam irreversíveis depois de certo tempo. As conclusões apresentadas baseiam-se no material fornecido por pacientes em tratamento psicanalítico que apresentam fenômenos disfágicos, e por vários casos das clínicas de orientação infantil entre cujos problemas se incluem, além da dificuldade de engulir, a anorexia e a bulimia. Com respeito às atividades emocionais típicas que formam o substrato psicológico do mal de engasgo, o ponto fundamental está em que êste representa um compromisso, expresso ao nível oral, entre tendências passivo-receptivas e ativo-expulsivas. A essa situação psíquica correspondem condições de ambiente, atuais ou pretéritas, que, de modo contraditório, favorecem uma atitude de dependência infantil, ao mesmo tempo que acarretam repetidas frustrações. Trata-se, em geral, de mães dominadoras que, enquanto superprotegem a criança, agem para com ela com demasiado rigor. A superproteção centraliza-se sobretudo no que se refere aos alimentos, que se investem, assim, de grande significado emocional. O A. apresenta o resumo de uma observação clínica que apoia seu ponto de vista. Também a anorexia e a bulimia, em seu substrato psicodinâmico, estão relacionadas com o problema do apego e da emancipação e giram em torno da pessoa da mãe e da função alimentar. A solução do conflito faz-se, porém, num dos casos, pela rejeição do alimento e, noutro, pela avidez. O mal de engasgo constitui o meio têrmo entre os dois extremos. Existem, igualmente, nas neuroses gástricas e em sua conseqüência direta, a úlcera péptica, desejos oral-receptivos que são fortemente rejeitados, por incompatíveis com as aspirações de independência do indivíduo; a solução escolhida é, porém, uma reação caracterológica que consiste numa atitude de empreendimento e de responsabilidade ante os demais. O tipo gástrico é, pois, mais complexo e menos primitivo: enquanto que os outros tipos mencionados buscam resolver seus problemas no plano digestivo, ele tenta fazê-lo no plano social; não o consegue, entretanto, integralmente, e a expressão de seu fracasso está nos distúrbios corporais que apresenta. Importante questão fica fora do âmbito do material do A.: a da freqüente associação entre megaesôfago e megacólon. Acredita, porém, que ambos correspondem a fases diversas da evolução libídica, em que entram, em diferentes doses, elementos orais e anais. Refere-se, a seguir, à componente anal que existe, até certo ponto, na estruturação afetiva do cardiospasmo e que falta, na mesma proporção, em outras afecções das vias digestivas superiores. O material utilizado nada esclarece quanto aos distúrbios cardíacos e demais manifestações descritas em outros órgãos e aparelhos. O A. acredita não haver qualquer contra-senso em encarar as alterações his-topatológicas como fenômenos meramente secundários. Muitos dos atuais pontos obscuros desse capítulo da patologia serão, sem dúvida, afastados quando, junto aos demais estudiosos do assunto, estejam psiquiatras e assistentes sociais orientados psicanalìticamente. |
url |
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1947000200002&lng=en&tlng=en |
work_keys_str_mv |
AT durvalmarcondes sobreapsicogenesedomaldeengasgo |
_version_ |
1725717553439834112 |