Summary: | A heterogeneidade e imprevisibilidade dos sinais linguísticos presentes em uma fala gaga fazem, de cada manifestação de fala, um acontecimento singular, mas são frequentemente desconsideradas em nome da necessidade de um diagnóstico clínico. Da heterogeneidade, depreende-se a singularidade dos sinais linguísticos que caracterizam essa gagueira e, da imprevisibilidade, descarta-se qualquer possibilidade de controle. Cremos que essas premissas devem estar na base do trabalho de compreensão da gagueira e do início de um diagnóstico em clínica: analisando, interpretando e compreendendo o fenômeno linguístico que faz com que aquela fala seja estranha, incomode ao falante e ao interlocutor. Os dados de dois sujeitos gagos, numa situação de conversa espontânea, foram analisados com relação às manifestações linguísticas de repetições, bloqueios, sons como implosiva dental, clique bilabial, que afetam o contínuo/descontínuo e potencialmente abalam as estuturas métricas da língua. Concluímos que há semelhanças nas falas analisadas quanto à presença de sons estranhos ao sistema fonológico da língua, de unidades repetidas, prolongadas, pausas que se inserem em lugares inesperados, e, sobretudo, à coocorrência de episódios gaguejantes e não gaguejantes no mesmo acontecimento de fala, à heterogeneidade e imprevisibilidade dos sinais linguísticos, que dizem da relação não estável do sujeito com a própria língua. São dessemelhantes pelo fato de que, comparando-se os sujeitos, as marcas linguísticas efetivamente realizadas diferem entre os sujeitos.
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