Nascimento de um corpo, origem de uma história

Partindo do pressuposto de que toda história significante se constrói a partir do nascimento de um corpo – corpo este que deverá ser investido libidinalmente – a autora discute os movimentos constitutivos da psique e sua relação com o corpo. A ênfase é dada ao postulado do auto-engendramento que diz...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Piera Aulagnier
Format: Article
Language:English
Published: Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental
Series:Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental
Subjects:
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000300009&lng=en&tlng=en
Description
Summary:Partindo do pressuposto de que toda história significante se constrói a partir do nascimento de um corpo – corpo este que deverá ser investido libidinalmente – a autora discute os movimentos constitutivos da psique e sua relação com o corpo. A ênfase é dada ao postulado do auto-engendramento que diz que enquanto o espaço psíquico e o espaço somático estão indissociáveis, a psique imputará à atividade das zonas sensoriais o poder de engendrar suas experiências. A autora parte daquilo que o corpo torna visível nos registros da emoção e do sofrimento somático, para compreender seu papel na construção do “corpo latente”, que é o seu duplo psíquico. A “aquisição” do corpo pelo Eu (Je) é seguida passo a passo no texto. A “historização” da vida somática só pode ser feita por um biógrafo: o Eu. Este Eu (Je) deve, entretanto, ser capaz de reconhecer como seus os eventos que marcaram significativamente sua vida. Para que o biógrafo e biografia existam é necessário que psique e corpo passem a se relacionar como pólos separados, marcando assim a passagem do corpo sensorial ao corpo relacional. O Eu (Je) só pode ocupar um corpo que possua uma história. A primeira versão desta história é elaborada pela psique que acolhe este corpo. Nesta história estará contido um “Eu (Je) antecipado”, referente à imagem do corpo da criança que a mãe antecipa, permitindo assim que a criança seja inserida num sistema de parentesco. Contudo, a situação pode complicar-se quando a imagem criada pela mãe não corresponde ao corpo com o qual a criança vem ao mundo. Os conflitos insuportáveis e os lutos irrealizáveis gerados por essa situação são ampla e longamente debatidos: a psicose, o autismo, as manifestações psicossomáticas, as somatizações polimorfas. No final do texto são analisadas, de forma pormenorizada, as conseqüências da não ancoragem do representante psíquico que a mãe traz do corpo do infans na realidade do corpo com o qual a criança nasce.
ISSN:1984-0381