Summary: | Resumo A sensação de que a instituição escolar vive uma profunda crise é bastante generalizada, sobretudo entre intelectuais e profissionais da educação. O consenso acerca de sua existência, no entanto, não tem implicado qualquer concordância no que concerne aos elementos que a teriam precipitado ou às características de sua atual configuração. A hipótese que guia essas reflexões visa a associar a noção de uma crise na educação escolar a um aspecto que costuma permanecer oculto na maior parte dos discursos críticos acerca da escolarização contemporânea: o esvanecimento do sentido político e existencial da experiência escolar. A fim de desenvolver tal hipótese, debruçamo-nos, inicialmente, sobre a variedade de possíveis acepções do termo “crise”, rejeitando aquelas que a vinculam de forma imediata às noções de declínio, decadência ou ocaso. A partir dos escritos de Arendt e Koselleck, a noção de crise é, então, utilizada em sua acepção primeira: a da emergência de um momento crucial que, por romper com respostas cristalizadas na tradição, exige reflexão e decisão. O que se procura realizar é, pois, um exercício de pensamento que recuse as abordagens funcionais e econômicas do sistema escolar em favor da compreensão de um sentido intrínseco para a experiência escolar: o da iniciação dos mais novos em heranças simbólicas capazes de dar inteligibilidade à experiência humana e durabilidade ao mundo comum. Uma iniciação cujo significado transcende qualquer funcionalidade exterior à experiência escolar, já que reside na própria formação de um sujeito, e não em sua possível inserção em um sistema produtivo.
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