Contaminações constitutivas do espaço urbano: cultura urbana por intermédio da intertextualidade e do entre
Segundo Perrone-Moisés, professora emérita de literatura francesa da Universidade de São Paulo (USP), entende-se por intertextualidade esse trabalho constante de cada texto com relação aos outros, o imenso e incessante diálogo entre obras que constitui a literatura. Cada obra surge como uma nova voz...
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Universidade de São Paulo (USP)
2008-12-01
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Series: | Pós: Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP |
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doaj-16d6e919f81c4291ab4f4924bdac12272021-02-13T04:01:35ZengUniversidade de São Paulo (USP)Pós: Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP1518-95542317-27622008-12-0124Contaminações constitutivas do espaço urbano: cultura urbana por intermédio da intertextualidade e do entreIgor Guatelli0Universidade Presbiteriana Mackenzie; Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; Departamento de ProjetoSegundo Perrone-Moisés, professora emérita de literatura francesa da Universidade de São Paulo (USP), entende-se por intertextualidade esse trabalho constante de cada texto com relação aos outros, o imenso e incessante diálogo entre obras que constitui a literatura. Cada obra surge como uma nova voz (ou um novo conjunto de vozes) que fará soar diferentemente as vozes anteriores, arrancando-lhes novas entonações - diálogo infinito/obra inacabada. O conceito de intertextualidade, advindo da literatura, é aplicável também na filosofia, como tem demonstrado Derrida em suas obras. A intertextualidade, o entre textos, um espaço de intermediação entre diferentes vozes, um espaço surgido do diálogo entre diferentes obras, textos, não necessariamente pertencentes a uma mesma época histórica ou ao mesmo gênero, torna-se, para Derrida, um poderoso instrumento à desconstrução do que parece ser dominante e natural. Igualmente, entende-se por entre, um intervalo, um espaço em latência e a-significante, ao mesmo tempo presente e ausente, entre presenças, em trânsite, sempre aberto ao porvir e pronto para ser fecundado, ao se manter apenas como um espaço de intermediação entre o suporte (seja ele uma escritura derridiana ou uma arquitetura infra-estrutural) e o usuário criador. Falando especificamente do espaço urbano, tais conceitos se tornam importantes nas discussões sobre a constituição de um espaço-suporte. Como nos textos, não se trataria simplesmente do vazio des-programado, mas um espaço, ao mesmo tempo, consistente e" esvaziado". Trabalhado como espaço de intermediação entre diferentes ações (a partir de diferentes vozes), por vezes com intenções conflitantes e distantes do que poderia ser apropriado para o correspondente lugar, esse espaço possibilitaria o engendramento de incessantes des-territorializações e reterritorializações do lugar, atribuindo-lhe, assim, diferentes sentidos e significados (entonações) ao desestabilizar sua representação. Com isso, propõe-se indagar se a consideração de tais conceitos favoreceria uma condição fundamental ao que poderíamos entender como uma chance para o advento de novas humanidades. Seriam, talvez, humanidades expressas na possibilidade, potencializada pela arquitetura e urbanismo, de ir além do estipulado e determinado, especialmente para aqueles que não querem apenas o lugar que lhes foi destinado ou o que este lugar sugere como mais apropriado. Em uma perspectiva desconstrutora, busca-se um diálogo fecundo com a filosofia pós-estruturalista, sobretudo de Derrida, e com a literatura, principalmente de Barthes, e, ao mesmo, transgredir as barreiras que limitam o raciocínio projetual. O artigo se debruça sobre uma situação limite e atípica encontrada na cidade de São Paulo; a saber, a constitutiva ocupação dos baixos do viaduto do Café, com o propósito de pensarmos problematicamente essa diferença e, com isso, formular questões sobre o im-possível outrem da cultura urbana atual.https://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/43586Contaminaçõesincubadores urbanosentreintensidadeurbanismo informal |
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Segundo Perrone-Moisés, professora emérita de literatura francesa da Universidade de São Paulo (USP), entende-se por intertextualidade esse trabalho constante de cada texto com relação aos outros, o imenso e incessante diálogo entre obras que constitui a literatura. Cada obra surge como uma nova voz (ou um novo conjunto de vozes) que fará soar diferentemente as vozes anteriores, arrancando-lhes novas entonações - diálogo infinito/obra inacabada. O conceito de intertextualidade, advindo da literatura, é aplicável também na filosofia, como tem demonstrado Derrida em suas obras. A intertextualidade, o entre textos, um espaço de intermediação entre diferentes vozes, um espaço surgido do diálogo entre diferentes obras, textos, não necessariamente pertencentes a uma mesma época histórica ou ao mesmo gênero, torna-se, para Derrida, um poderoso instrumento à desconstrução do que parece ser dominante e natural. Igualmente, entende-se por entre, um intervalo, um espaço em latência e a-significante, ao mesmo tempo presente e ausente, entre presenças, em trânsite, sempre aberto ao porvir e pronto para ser fecundado, ao se manter apenas como um espaço de intermediação entre o suporte (seja ele uma escritura derridiana ou uma arquitetura infra-estrutural) e o usuário criador. Falando especificamente do espaço urbano, tais conceitos se tornam importantes nas discussões sobre a constituição de um espaço-suporte. Como nos textos, não se trataria simplesmente do vazio des-programado, mas um espaço, ao mesmo tempo, consistente e" esvaziado". Trabalhado como espaço de intermediação entre diferentes ações (a partir de diferentes vozes), por vezes com intenções conflitantes e distantes do que poderia ser apropriado para o correspondente lugar, esse espaço possibilitaria o engendramento de incessantes des-territorializações e reterritorializações do lugar, atribuindo-lhe, assim, diferentes sentidos e significados (entonações) ao desestabilizar sua representação. Com isso, propõe-se indagar se a consideração de tais conceitos favoreceria uma condição fundamental ao que poderíamos entender como uma chance para o advento de novas humanidades. Seriam, talvez, humanidades expressas na possibilidade, potencializada pela arquitetura e urbanismo, de ir além do estipulado e determinado, especialmente para aqueles que não querem apenas o lugar que lhes foi destinado ou o que este lugar sugere como mais apropriado. Em uma perspectiva desconstrutora, busca-se um diálogo fecundo com a filosofia pós-estruturalista, sobretudo de Derrida, e com a literatura, principalmente de Barthes, e, ao mesmo, transgredir as barreiras que limitam o raciocínio projetual. O artigo se debruça sobre uma situação limite e atípica encontrada na cidade de São Paulo; a saber, a constitutiva ocupação dos baixos do viaduto do Café, com o propósito de pensarmos problematicamente essa diferença e, com isso, formular questões sobre o im-possível outrem da cultura urbana atual. |
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