Etnopedologia e transferência de conhecimento: diálogos entre os saberes indígena e técnico na Terra Indígena Malacacheta, Roraima Ethnopedology and knowledge transfer: dialogue between indians and soil scientists in the Malacacheta Indian Territory, Roraima, Amazon
O conhecimento indígena sobre a pedodiversidade é o objeto principal da etnopedologia. Nesse sentido, a tradição agrícola e cultural dos índios Uapixana, do tronco lingüístico Aruaque, em Roraima, constitui relevante acervo imaterial de valor etnocientífico, sendo valorizada pela Universidade Federa...
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Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
2007-04-01
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Series: | Revista Brasileira de Ciência do Solo |
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José Frutuoso do Vale Jr. Carlos Ernesto G.R. Schaefer José Augusto Vieira da Costa |
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José Frutuoso do Vale Jr. Carlos Ernesto G.R. Schaefer José Augusto Vieira da Costa Etnopedologia e transferência de conhecimento: diálogos entre os saberes indígena e técnico na Terra Indígena Malacacheta, Roraima Ethnopedology and knowledge transfer: dialogue between indians and soil scientists in the Malacacheta Indian Territory, Roraima, Amazon Revista Brasileira de Ciência do Solo Amazônia solos indígenas terra preta de índio etnoecologia Índios Uapixana índios Macuxi Amazon indigenous soils Indian black earth ethnoecology Wapishana Indians Macuxi Indians |
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0100-0683 1806-9657 |
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2007-04-01 |
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O conhecimento indígena sobre a pedodiversidade é o objeto principal da etnopedologia. Nesse sentido, a tradição agrícola e cultural dos índios Uapixana, do tronco lingüístico Aruaque, em Roraima, constitui relevante acervo imaterial de valor etnocientífico, sendo valorizada pela Universidade Federal de Roraima em seus cursos superiores de Educação Indígena no Estado. Neste trabalho confrontou-se a experiência etnopedológica dos índios Uapixana com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, durante o levantamento de solos da Terra Indígena (TI) Malacacheta. O sistema de classificação etnopedológica existente na comunidade indígena Uapixana da TI Malacacheta identifica e separa todos os principais compartimentos ambientais de ocorrência na área, permitindo relacionar aspectos de simples percepção e identificação (cor, textura, profundidade, vegetação) com aspectos cognoscíveis (uso, tipo de cultivo, vocação, etc.). Os índios Uapixana identificam e classificam oito tipos básicos de solos, que ocorrem individualmente ou formando associações: Imii Wyzda'u (Terra Amarelada), Imii Wyza'u (Terra Vermelha), Imii Pudiidiu (Terra Preta), Imii Pudiidiza'u (Terra Roxa), Katy Bara Pudiidiu (Barro Arenoso), Imii Kaxidia'u (Estopa Preta), Imii Katy Bara Pudiidiu Naik Baraka'u (Terra Arenosa Preta e Branca) e Imii Wyzadaza'u Rik Pudiidiu (Miscelânea de Terra Amarela, Roxa e afloramentos de rocha), abordando características morfológicas, físicas e químicas e as principais limitações quanto ao uso agrícola. Há relação evidente entre a dimensão do saber etnopedológico o saber etnoecológico, em sentido amplo. A experiência etnopedológica representa, assim, a extensão de uma abrangente cadeia de inter-relações homem-meio, dentro do princípio universal da ecologia humana da paisagem. O diálogo etnopedológico travado entre a comunidade indígena e os pedólogos trouxe contribuições muito relevantes e mutuamente benéficas: facilitou a transferência de conhecimento entre dois saberes, in loco, desvendando boa parte das relações etnopedológicas e etnoecológicas e refletindo sobre "como" e "por que" cada grupo identificava um dado tipo de solo. Permitiu ainda delinear o esboço da distribuição dos solos com base no saber indígena, utilizando a extrapolação cartográfica disponível ao pedólogo; esse fato facilitou o próprio mapeamento convencional, especialmente no reconhecimento de inclusões e associações de solos. De forma mais destacada, a experiência permitiu ainda uma real comunicação e aproximação entre os agentes do saber (indígenas e técnico), com base na troca e em descobertas mútuas de conhecimentos, gerando uma sinergia que aproxima o técnico e o indígena, com resultados práticos palpáveis, que extrapolam o próprio objetivo inicial do levantamento de solos da TI Malacacheta.<br>Ethnopedology deals mainly with indigenous knowledge on pedo-diversity. In this sense, the agricultural and cultural traditions of the Wapishana Indians in Roraima, of the Arawak linguistic background, constitute a relevant pool of ethno-scientific knowledge in Amazonia. The Federal University of Roraima has increasingly acknowledged their importance in the Indigenous Education undergraduate courses. In this study, the ethnopedological classifications of the Wapishana Indians were confronted with the Brazilian System of Soil Classification in a soil survey of the Malacacheta Indian Territory. The ethnopedological classification of Wapishana Indians identifies and separates all environmental segments of the area, relating easily recognizable aspects of the soilscape (color, texture, depth, vegetation) with observable aspects (land use, cultivation type, suitability). The Wapishana classify eight basic soil types, that occur either separately or in associations: Imii Wyzda'u (Yellowish earth), Imii Wyza'u (Red earth), Imii Pudiidiu (Black Earth), Imii Pudiidiza'u (Dusky-Red Earth), Katy Bara Pudiidiu (Sandy loam), Imii Kaxidia'u (Black spongy), Imii Katy Bara Pudiidiu Naik Baraka'u (Black and White Sandy Ground) and Imii Wyzadaza'u Rik Pudiidiu (Mixed Yellowish earth, Dusky-Red earth and Rock outcrops), based on morphological, physical and chemical attributes, as well as land use limitations. There are clear relationships between the ethnopedological knowledge and the ethno-ecological dimension of the Wapishana culture, in the broadest sense. The ethnopedological observations, thus, represent an expression of the interwoven network of man-environment relationships, seen in a framework of universal principles of human/landscape ecology. The intense ethnopedological dialogue between soil scientists and Indians resulted in enriching, mutually beneficial contributions: the proper knowledge transfer in loco between two different traditions, the clarification of great part of the ethnopedological perceptions of both groups, and the understanding on how and why each group identified a given soil. Moreover, a soil map based on indigenous knowledge was drawn up, in an extrapolation of the cartographical base available to pedologists; this supported the conventional soil mapping of the area as well, especially in the recognition of soil inclusions and associations. Particularly, the experience allowed effective communication and approach of the representatives of indigenous and technical knowledge, based on knowledge transfer and mutual discoveries of understanding, creating synergy effects with promising results, which outreached the original aim of soil mapping of the Malacacheta Indian Territory. |
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Neste trabalho confrontou-se a experiência etnopedológica dos índios Uapixana com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, durante o levantamento de solos da Terra Indígena (TI) Malacacheta. O sistema de classificação etnopedológica existente na comunidade indígena Uapixana da TI Malacacheta identifica e separa todos os principais compartimentos ambientais de ocorrência na área, permitindo relacionar aspectos de simples percepção e identificação (cor, textura, profundidade, vegetação) com aspectos cognoscíveis (uso, tipo de cultivo, vocação, etc.). Os índios Uapixana identificam e classificam oito tipos básicos de solos, que ocorrem individualmente ou formando associações: Imii Wyzda'u (Terra Amarelada), Imii Wyza'u (Terra Vermelha), Imii Pudiidiu (Terra Preta), Imii Pudiidiza'u (Terra Roxa), Katy Bara Pudiidiu (Barro Arenoso), Imii Kaxidia'u (Estopa Preta), Imii Katy Bara Pudiidiu Naik Baraka'u (Terra Arenosa Preta e Branca) e Imii Wyzadaza'u Rik Pudiidiu (Miscelânea de Terra Amarela, Roxa e afloramentos de rocha), abordando características morfológicas, físicas e químicas e as principais limitações quanto ao uso agrícola. Há relação evidente entre a dimensão do saber etnopedológico o saber etnoecológico, em sentido amplo. A experiência etnopedológica representa, assim, a extensão de uma abrangente cadeia de inter-relações homem-meio, dentro do princípio universal da ecologia humana da paisagem. O diálogo etnopedológico travado entre a comunidade indígena e os pedólogos trouxe contribuições muito relevantes e mutuamente benéficas: facilitou a transferência de conhecimento entre dois saberes, in loco, desvendando boa parte das relações etnopedológicas e etnoecológicas e refletindo sobre "como" e "por que" cada grupo identificava um dado tipo de solo. Permitiu ainda delinear o esboço da distribuição dos solos com base no saber indígena, utilizando a extrapolação cartográfica disponível ao pedólogo; esse fato facilitou o próprio mapeamento convencional, especialmente no reconhecimento de inclusões e associações de solos. De forma mais destacada, a experiência permitiu ainda uma real comunicação e aproximação entre os agentes do saber (indígenas e técnico), com base na troca e em descobertas mútuas de conhecimentos, gerando uma sinergia que aproxima o técnico e o indígena, com resultados práticos palpáveis, que extrapolam o próprio objetivo inicial do levantamento de solos da TI Malacacheta.<br>Ethnopedology deals mainly with indigenous knowledge on pedo-diversity. In this sense, the agricultural and cultural traditions of the Wapishana Indians in Roraima, of the Arawak linguistic background, constitute a relevant pool of ethno-scientific knowledge in Amazonia. The Federal University of Roraima has increasingly acknowledged their importance in the Indigenous Education undergraduate courses. In this study, the ethnopedological classifications of the Wapishana Indians were confronted with the Brazilian System of Soil Classification in a soil survey of the Malacacheta Indian Territory. The ethnopedological classification of Wapishana Indians identifies and separates all environmental segments of the area, relating easily recognizable aspects of the soilscape (color, texture, depth, vegetation) with observable aspects (land use, cultivation type, suitability). The Wapishana classify eight basic soil types, that occur either separately or in associations: Imii Wyzda'u (Yellowish earth), Imii Wyza'u (Red earth), Imii Pudiidiu (Black Earth), Imii Pudiidiza'u (Dusky-Red Earth), Katy Bara Pudiidiu (Sandy loam), Imii Kaxidia'u (Black spongy), Imii Katy Bara Pudiidiu Naik Baraka'u (Black and White Sandy Ground) and Imii Wyzadaza'u Rik Pudiidiu (Mixed Yellowish earth, Dusky-Red earth and Rock outcrops), based on morphological, physical and chemical attributes, as well as land use limitations. There are clear relationships between the ethnopedological knowledge and the ethno-ecological dimension of the Wapishana culture, in the broadest sense. The ethnopedological observations, thus, represent an expression of the interwoven network of man-environment relationships, seen in a framework of universal principles of human/landscape ecology. The intense ethnopedological dialogue between soil scientists and Indians resulted in enriching, mutually beneficial contributions: the proper knowledge transfer in loco between two different traditions, the clarification of great part of the ethnopedological perceptions of both groups, and the understanding on how and why each group identified a given soil. Moreover, a soil map based on indigenous knowledge was drawn up, in an extrapolation of the cartographical base available to pedologists; this supported the conventional soil mapping of the area as well, especially in the recognition of soil inclusions and associations. Particularly, the experience allowed effective communication and approach of the representatives of indigenous and technical knowledge, based on knowledge transfer and mutual discoveries of understanding, creating synergy effects with promising results, which outreached the original aim of soil mapping of the Malacacheta Indian Territory.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-06832007000200023Amazôniasolos indígenasterra preta de índioetnoecologiaÍndios Uapixanaíndios MacuxiAmazonindigenous soilsIndian black earthethnoecologyWapishana IndiansMacuxi Indians |