“Amizade” no Lísis
O objetivo deste trabalho é interpretar a noção de philía (“amizade”), no Lísis, apontando a sua filiação nas noções de oikeîos (“afinidade”) e syngéneia (“congenitura”, “conaturalidade”: Men. 81b, passim). O diálogo é dominado pela incapacidade de caraterizar a relação da “afinidade” com a “semelha...
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Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)
2007-12-01
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Series: | Classica, Revista Brasileira de Estudos Clássicos |
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Online Access: | https://revista.classica.org.br/classica/article/view/145 |
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doaj-0036770ce27e47d6a68d2874ffafa56a2020-11-24T23:46:52ZengSociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)Classica, Revista Brasileira de Estudos Clássicos0103-43162176-64362007-12-0120220221110.24277/classica.v20i2.145135“Amizade” no LísisJosé Trindade Santos0Universidade Federal da ParaíbaO objetivo deste trabalho é interpretar a noção de philía (“amizade”), no Lísis, apontando a sua filiação nas noções de oikeîos (“afinidade”) e syngéneia (“congenitura”, “conaturalidade”: Men. 81b, passim). O diálogo é dominado pela incapacidade de caraterizar a relação da “afinidade” com a “semelhança” (hómoion: 222a-e). Se o primeiro amigo é o bom (220a), aquele que o deseja não pode ser semelhante, nem contrário a ele: se fosse semelhante, não teria motivo para o desejar; se fosse contrário, teria de o repelir. Debaixo da aporia, escondem-se os problemas da relação entre o bem e o mal e da contrariedade. O primeiro é resolvido no Timeu através do desdobramento da criação do cosmo vivo: enquanto a alma imortal é criada pelo demiurgo, as almas irrracionais e os corpos dos mortais são construídas pelos deuses criados (41a-d). O segundo é resolvido no Sofista pela reformulação do sentido da negativa, que passa a poder ser lida como alteridade, além de como contrariedade. Esta solução é antecipada materialmente no Lísis pela interposição de “o que não é bom nem mau” (218b-c) entre o bom e o mau, associada em diversos diálogos à concepção do mal como “ignorância” do bem (Ti. 86d-e; ver Sph. 228c; Ti. 86b-90d; ver R. 353e).https://revista.classica.org.br/classica/article/view/145PlatãoDiálogosphilíaoikeîossyngéneia. |
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O objetivo deste trabalho é interpretar a noção de philía (“amizade”), no Lísis, apontando a sua filiação nas noções de oikeîos (“afinidade”) e syngéneia (“congenitura”, “conaturalidade”: Men. 81b, passim). O diálogo é dominado pela incapacidade de caraterizar a relação da “afinidade” com a “semelhança” (hómoion: 222a-e). Se o primeiro amigo é o bom (220a), aquele que o deseja não pode ser semelhante, nem contrário a ele: se fosse semelhante, não teria motivo para o desejar; se fosse contrário, teria de o repelir. Debaixo da aporia, escondem-se os problemas da relação entre o bem e o mal e da contrariedade. O primeiro é resolvido no Timeu através do desdobramento da criação do cosmo vivo: enquanto a alma imortal é criada pelo demiurgo, as almas irrracionais e os corpos dos mortais são construídas pelos deuses criados (41a-d). O segundo é resolvido no Sofista pela reformulação do sentido da negativa, que passa a poder ser lida como alteridade, além de como contrariedade. Esta solução é antecipada materialmente no Lísis pela interposição de “o que não é bom nem mau” (218b-c) entre o bom e o mau, associada em diversos diálogos à concepção do mal como “ignorância” do bem (Ti. 86d-e; ver Sph. 228c; Ti. 86b-90d; ver R. 353e). |
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